Um crime, dois artistas, um movimento
Nick Bertozzi, o autor da graphic novel que homenageia os criadores do cubismo
Visto no Clicrbs – por Cristiane Schmitz
Para quem não entende absolutamente nada de história da arte, “Salon”, a história em quadrinhos do americano Nick Bertozzi, pode ajudar aos interessados a ficarem mais íntimos de um período de ouro e cheio de expectativas para a arte.
Ao mesmo tempo, há um risco que se corre com toda homenagem que se faz à realidade: confundir a verdade com a ficção.
Em “pinceladas” que lembram um filme noir, Nick Bertozzi se foca em um momento crucial para o futuro da própria arte: a criação do Cubismo, movimento encabeçado por Georges Braque e Pablo Picasso.
Historicamente, “Les Mademoiselles D’Avignon”, de Picasso, é considerada a obra que marca o movimento.
Entretanto, há quem diga que o mérito do pontapé inicial é de Braque. E, pelo que se vê na história em quadrinhos de Bertozzi, tem tudo para ser verdade. Mas como nada ali é uma absoluta verdade, fica a critério do leitor decidir quem é o melhor.
Em uma Paris de 1907, encharcada de absinto e repleta de ruas que cheiravam à arte e boemia, pintores de vanguarda começam a ser decapitados. Até aí, tudo é ficção – menos Paris -, mais um livro de quadrinhos de traços adultos e cores sombrias.
Bertozzi trabalha cada página em dois tons, tornando os dias de Paris cada vez mais mundanos, e as noites, sempre mais perigosas. O autor da graphic novel, Nick Bertozzi, já foi finalista do prêmio Eisner, o Oscar dos quadrinhos.
Seria mais uma história de suspense se não fossem os célebres personagens que tentam desvendar o mistério.
Gertrude Stein, a escritora americana e feminista que teve um papel fundamental no apoio aos artistas de vanguarda, encabeça, com seu irmão, uma busca pelos assassinos, por acharem que podem ser as próximas vítimas.
A autora de “A Autobiografia de Alice B. Toklas” foi uma das primeiras a pendurar um Picasso na parede e tinha uma roda muito seleta de amigos. Entre eles, Guillaume Apollinaire, outro personagem real que aparece na história. O crítico de arte que auxiliou nos alicerces teóricos do cubismo e, em seguida, do surrealismo, faz juz à frase dita no futuro por Ernest Hemingway: “Paris é uma festa”.
Pablo Picasso, no livro de Bertozzi, é um homem mulherengo – o que sempre foi na vida real – um pouco atrevido e fã de histórias em quadrinhos. Tinha uma richa terrível com Henri Matisse, e parecia mais um artista petulante e atrevido do que o gênio que foi considerado no futuro.
Georges Braque, em “Salon”, é um homem metódico, pudico e está atrás de uma nova maneira de expressar a arte. Na trama de Bertozzi, Braque é viciado em absinto.
Alice B. Toklas, companheira de Gertrude por 25 anos e que inspirou sua obra mais famosa, é tida aqui como a pessoa responsável pelo afastamento de Gertrude de seu irmão, Leo. O livro dá uma ideia de como o romance começou, nas grandes festas até tarde nos salões moderninhos de Paris.
Para completar o grupo, Erik Satie, o compositor excêntrico que criou a música ambiente e incorporou performances às suas exibições. Era muito amigo de Picasso, portanto, não podia faltar na aventura.
Nos quadrinhos, a escritora Gertrude Stein ajuda a desvendar um crime
Agora, voltemos à história em quadrinhos: uma espécie de serial killer (uma mulher taitiana saída das telas de Gauguin) começa a matar pintores de vanguarda. A princípio, a polícia não dá muita bola, porque, para eles, artistas são sinônimos de vabagundos. Mas os ataques começam a preocupar, e a sedutora mulher azul pode atacar àqueles que têm nas mãos o futuro da arte.
Gertude Stein e seu irmão Leo, donos de uma galeria, reúnem um seleto grupo para desvendar esse mistério (Satie, Braque, Picasso, Toklas e Apollinaire). Para encontrar pistas, fazem uma viagem nada convencional.
Uma espécie de absinto raro permite que os artistas possam viajar dentro de obras de arte, o que, além de ajudar nas investigações, também amplia as percepções de cada um.
Em meio ao mistério, malícia e erotismo, o que eles acabam descobrindo é que os crimes têm tudo a ver com outro artista, talvez o mais perturbado e rebelde que já surgiu: Paul Gauguin.
É lá que o artista, morto em 1903 – não se esqueça que a história se passa em 1907 – sobrevive, numa singela homenagem ao homem que buscou uma arte cada vez mais primitiva mas, ao mesmo tempo, autêntica em sua representação. É uma de suas mulheres taitianas, de tantas que pintou, que carrega em si a suspeita de cometer os crimes.
Mas os crimes podem ser um detalhe, já que a história foca muito na amizade entre Braque e Picasso, que futuramente iriam criar o Cubismo. Bertozzi desenha um Picasso petulante, enquanto isso, vê um Braque revolucionário, um homem mais preocupado em revolucionar a arte do que em ser famoso. Entre tantos ângulos que buscou, um altruísta da arte.
“Salon” – Nick Bertozzi. Editora Desideratta, 189 páginas. R$ 39,90 (preço médio).
Visto no Clicrbs – por Cristiane Schmitz
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