Prata da Casa: Ideias iluminadas por um relâmpago
Quando falamos da Era de Prata dos Quadrinhos, logo nos lembramos dos personagens da editora DC Comics. Não que a Marvel, sua concorrente, não tenha suas representações nessa época (e já vimos isso anteriormente), mas a época tende a lembrar dos amigos do Superman. Porém, nada mais justo, uma vez que a citada Era de Prata começou com um herói da Detective Comics: o velocista The Flash, que REssurgiu na Showcase nº 4, em 1956.
Mas, o início dessa Era não aconteceu como se fosse um grande evento e muito menos se tinha a consciência do que surgiria a partir daquele ponto. Na verdade, esse processo foi um tanto quanto lento, talvez lento demais para o herói mais rápido dos quadrinhos.
O novo Flash surgiu como uma ideia editorial um tanto ousada (ou maluca) vinda com as bênçãos do editor Julius Schwartz, do escritor Gardner Fox e do desenhista Harry Lampert. Acontece que já havia um personagem, criado décadas atrás, chamado Flash.
Também pertencente à editora que seria conhecida como DC Comics, esse Flash das antigas tinha praticamente os mesmos poderes do da Era de Prata, apesar do visual mais simplório. O objetivo não era trazer o mesmo personagem de volta, e sim criar um NOVO personagem. O que Gardner Fox tinha nas mãos era o nome e os poderes. Sua parte era criar algo inédito com esses dois itens.
Então, em outubro de 1956, surgia o novo Flash, identidade secreta do cientista policial Barry Allen, que sofreu um acidente em seu laboratório envolvendo produtos químicos e um relâmpago (algo muito parecido com a origem do primeiro Flash). Era uma boa ideia que não tinha a pretensão de fazer tanto sucesso entre os leitores quanto se imaginava.
Porém, isso aconteceu e, anos depois, The Flash ganharia sua própria revista. Ou mais do que isso! Como se arrastasse toda uma época com a força de sua velocidade, o surgimento do personagem nesses moldes abriu as portas para que outros também passassem por um processo criativo parecido e fossem recriados apenas a partir de seus nomes e poderes.
Alguns personagens ícones da casa, como Superman e Batman, não sofreram uma mudança tão brusca, mesmo porque, ao contrário do primeiro Flash, suas histórias não haviam sido interrompidas. Antes da Era de Prata, a popularidade do gênero de super-heróis havia declinado, e alguns personagens caíram no esquecimento.
Com essas reformulações, outro efeito beneficiou os heróis de antigamente: reacendeu-se o interesse por esse gênero e, como consequência, os novos leitores queriam saber mais sobre as antigas versões de seus, agora, personagens favoritos.
Para suprir a curiosidade dos leitores, foi criado um recurso que traria os mesmo personagens de décadas passadas lado a lado com suas versões reformuladas. Os escritores imaginaram que, por exemplo, existiam o NOVO Flash e o ANTIGO Flash, mas em realidades diferentes. O grande evento aqui foi fazer com que os dois personagens se encontrassem. Estava criado assim o conceito de Multiverso, onde personagens novos se encontravam com suas contrapartes de outros tempos em realidades distintas.
Essa ideia, muito bem bolada para o clima de ficção que permeava a Era de Prata, iria acabar se tornando uma das maiores dores de cabeça da editora ao sair um pouco do controle em décadas futuras, mas havia grande divulgação quando personagens da Liga da Justiça (formada pelos heróis reformulados) encontravam-se com os personagens da Sociedade da Justiça (formada pelos heróis de outrora).
O surgimento do Flash, portanto, marca não só o início de uma Era Prateada e cheia de criatividade desde seu conceito inicial, como prova que, para se sair da mesmice basta um lampejo de criatividade, por mais louca que possa parecer. Um lampejo simples, porém de intensa inspiração. Como se um relâmpago iluminasse os editores com novos conceitos.
https://impulsohq.com/quadrinhos/prata-da-casa-ideias-iluminadas-por-um-relampago/notíciasquadrinhosDC Comics,Era de Prata,Flash,Gardner Fox,Harry Lampert,Julius Schwartz,Prata da CasaQuando falamos da Era de Prata dos Quadrinhos, logo nos lembramos dos personagens da editora DC Comics. Não que a Marvel, sua concorrente, não tenha suas representações nessa época (e já vimos isso anteriormente), mas a época tende a lembrar dos amigos do Superman. Porém, nada mais justo, uma...Marcos DarkMarcos Dark[email protected]ContributorEditor do blog Âmago, no qual divulga e compartilha o fantástico mundo do super-heróis por meio de seus artigos sobre esse tema. Já foi chamado de Dark Marcos quando da publicação de seus próprios roteiros de quadrinhos (Tianinha, Café Espacial, publicações independentes). Marcos Dark nasceu na era marveldecezóica, saindo de um poço de nanquim e encontrando uma capa vermelha, desde então dedicando-se a divulgar o super heroísmo (fonte não revelada). Heavy Metal, quanto mais Heavy e mais Metal, acalmam-lhe os nervos e lhe servem de música de fundo para escrever os artigos. Quadrinhos são sua religião. Ler e compartilhá-los está no seu sangue. Âmago é seu uniforme de combate. Blogueiro, adorador de quadrinhos... e leitor. www.quadrinhosdarkmarcos.blogspot.comImpulso HQ
Achei esse texto muito interessante. Fico com a impressão de que não é de hoje que fórmulas e universos são rebootados nos quadrinhos. Pode-se dizer qualquer coisa, mas penso que não tão diferente do que acontece hoje em dia quando se cria uma nova versão de algo, como as versões ultimates ou fatos pós-crise. É sempre uma tentativa de vender algo, com resultados que podem ser positivos e negativos tanto no campo financeiro para as empresas quanto artístico para os fãs.
Disse muito bem, Rodrigo. Existem reformulações… e reformulações. Depende muito do talento editorial para se obter o sucesso (mais até do que a responsabilidade dos escritores e desenhistas).
Recontar, reformular, adaptar fatos tem muito a ver com o fato de renovação de gerações de leitores. Os clássicos (de verdade) jamais vão perder sua importância, mas há a necessidade de conseguir mais público. E, ainda mais hoje, as coisas a nossa volta mudam muito rápido. Muitas vezes, mais rápido do que uma megassaga pode durar.