Resenha HQB: Zine Royale nº4
A 4ª edição do Zine Royale tem como tema a América Latina, ou melhor, os quadrinhos produzidos na América Latina.
A revistinha (pelo formato: 10 x 14 cm) começa com as HQs “Manu” (de Luciano Tasso) e “Encontros estranhos” (do mexicano José Alfaro). São dois trabalhos bem chatinhos porque, embora apresentem bons desenhos, pecam por privilegiarem o conteúdo político em detrimento da narrativa e seu potencial de tornar o conteúdo mais interessante para o leitor.
Daí para frente, felizmente, a edição apresenta apenas bons momentos. A começar com a entrevista de Eloar Guazzelli, composta por perguntas e respostas inteligentes e interessantes que, além de quadrinhos, tratam sobre a cultura e a política geral da América Latina.
A HQ “Fúria” (de Denny Chang) tem uma narrativa confusa, principalmente nas duas últimas páginas, mas é um trabalho interessante, com boas composições de páginas. A história é sobre uma pessoa que tenta se livrar de seu passado jogando alguns objetos ao mar, mas o passado volta a incomodá-la.
“Un viaje hasta mis adentros” (de Jozz, que também é editor da revista) é sobre um rapaz que termina um relacionamento, aparentemente feliz, em busca de um maior autoconhecimento. Interessante como o autor intercala presente, passado e flashbacks dentro do passado usando apenas hachuras e tons de cinza para diferenciá-los. Vale a pena citar também o belo texto, de forte carga poética, e a diagramação fragmentada – a exemplo do tempo.
Grande trabalho!
O artigo “¿Dónde están nuestros hermanos?” (de Tiago Souza) aborda a interessante questão da ausência de trabalhos argentinos no mercado brasileiro e vice-versa. O texto apresenta ainda algumas importantes datas dos quadrinhos sul-americanos.
A HQ “A universalidade” (da argentina Cammie) conta a história de uma garota perdida em Buenos Aires que fala português, francês, italiano, inglês e alemão, mas não entende uma palavra de espanhol. O traço é muito bonito e junto com a técnica aguada dá um visual bem legal para a HQ.
Finalizando a edição, o experiente Gazy Andraus contribui com a HQ “A vida en un corazón”, propositalmente escrita em portunhol. Basicamente, a HQ fala sobre coragem e sacrifício para tornar o mundo um lugar melhor, embora possa ter diversas interpretações já que se trata de uma HQ poética.
Destaque para o belo grafismo (agora, acompanhado de interessantes retículas) deste autor – que pode parecer mero esboço para os mais desavisados.
Completam a edição ilustrações de Alexandre Shibao, Jonas Gomes, José Alfaro e Zuza.
A atenção ao tema foi tanta que a revista apresenta diversos elementos gráficos característicos das culturas latino-americanas ao longo das páginas, preocupando-se, inclusive, em traduzir os textos para o idioma espanhol.
Curioso como os quadrinhos latino-americanos começam a despertar interesse numa parte de nossos autores e editores. Desejo que esse interesse aumente cada vez mais, já que a participação de autores da região contribui ainda mais para a qualidade do material que sai por aqui – como ficou provado nesta edição do Zine Royale.
Zine Royale nº4
Autores: Cammie, Denny Chang, Gazy Andraus, José Alfaro, Jozz e Luciano Tasso (HQs); Alexandre Shibao, Jonas Gomes, José Alfaro e Zuza (ilustrações); e Tiago Souza (artigo).
Revista Independente
64 páginas
Data: Dezembro de 2009
R$ 4,00
Contato: www.zineroyale.wordpress.com

Discordo da sua opinião.
O texto do Luciano Tasso está longe de ser chato. Talvez pareça chato para quem tem preguiça de pensar. Ilustração não é só imagem e ela fica bem mais interessante se associada a conteúdo político sim, por que não?
Conteúdo político não exclui narrativa – aliás, parece-me bem mais inteligente que uma simples profusão de imagens ou estórias óbvias.
Conteúdo político não exclui narrativas nem histórias bacanas, como é o caso de V de Vingança, Ferdiando e os Shmoos, Mafalda e os trabalhos de Henfil (apenas para citar alguns).
Não é o caso do tabalho de Luciano Tasso nesta edição. A idéia dele em associar a história da América Latina com a de uma mulher é interessante, mas não é bem trabalhada – talvez pelo tamanho ou número de páginas; o fato é que não é bem desenvolvido.
Mas esta é a minha opinião e este é um espaço democrático para todos manifestarem o que pensam a respeito desse assunto.
Fica registrada a sua opinião.
Aliás, sugiro que faça um pequeno texto, aqui mesmo na seção de comentários, sobre a HQ citada (Manu de Luciano Tasso), apresentando aos leitores os aspectos que fazem o trabalho ser tão bom na sua opinião. Seria bem bacana!
Grato pela atenção e por deixar o espaço mais democrático!