Resenha HQB: Val nº3
Val, personagem de Vagner Francisco criado em 2001, é um boa vida tipicamente urbano: às vezes folgado, às vezes conquistador, de calça jeans e jaqueta de couro, curte vodca barata, é apaixonado por quadrinhos (seu visual é inspirado em Wolverine), gosta de discutir filosofia com moradores de rua, se importa com seus amigos e é capaz de vender sua alma por um maço de cigarros.
Ou seja: impossível não sentir empatia por ele. E capacidade de gerar empatia é o principal ingrediente em um personagem, afinal é o que faz as pessoas se interessarem pela história, acompanharem e torcerem pelo protagonista. Uma pena que toda essa empatia se dispersa no decorrer da revista em meio a um monte de referências aos super-heróis estadunidenses que só fazem sentido e graça para o público que acompanha esse tipo de quadrinhos.
Ai entra o grande problema da edição: o público que lê super-heróis – ao menos sua maioria esmagadora – não terá contato com a revista. Simplesmente porque este não é o gênero que eles apreciam. E aqui vai uma dica para quem pensa em fazer roteiros: antes de tudo, definam o gênero de sua história.
É através do gênero que as pessoas se interessam por algum tipo de material (seja quadrinhos, cinema, literatura ou qualquer outra arte narrativa); muitos canais de divulgação são divididos por gêneros e a bagagem cultural do público e suas exigências são diferentes em cada um deles. Por isso, metade das histórias da edição não agradarão as pessoas que curtem temática urbana e, pela falta de pancadaria e outros elementos tradicionais no gênero de super-heróis, dificilmente a revista chegará nas mãos de quem curte super-heróis.
Claro que referências são boas e acrescentam níveis de leitura, mas não podem se tornarem a parte principal numa história, como acontece na primeira metade da revista, principalmente se o gênero da história é diferente do gênero das referências. Como já disse, Val é um personagem urbano e as historias que exploram esse seu lado são extremamente agradáveis de acompanhar: “Encontro com vantagem unilateral” mostra o encontro de Val com uma figura sinistra num boteco barato; “Em sua honra” é uma HQ na qual Val, cansado da rotina, resolve desaparecer para que o mistério de seu sumiço torne a vida de seus amigos mais interessante.
Já as outras histórias o retratam em crise de identidade na frente do espelho irritado com o fato de todo mundo compará-lo ao Wolverine devido ao seu visual; ele na cama com uma bela garota, mas desperdiçando o tempo falando de suas expectativas quanto ao fato de Alan Moore escrever a revista mensal do Quarteto Fantástico e uma invasão de seres super poderosos numa feira de quadrinhos.
São elementos que, dentro de uma história maior, até poderiam trazer alguma comicidade, mas como parte principal – no caso, única – da história, ficam fracos até para quem é apaixonado por super-heróis. Em tempo: a capa e os desenhos, para a temática urbana, são muito competentes (embora eu considere que os traços mais próximos do cartum, como o de Denis Pacher e de Vini Visentini, reflitam melhor a personalidade do protagonista).
Para as próximas edições, sugiro que o autor siga a linha de cotidiano para as histórias de Val, na qual se sai muito bem, e desloque as referências para segundo plano.
Val nº3
Autores: Vagner Francisco (roteiro), Denis Pacher, Eliel D’Oliveira, Greifo, Orlando Maro e Vini Visentini (desenhos).
Revista Independente
36 páginas
Data: Janeiro de 2009
R$ 4,00
Contato: [email protected]

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