Resenha HQB: Remy
Tenho um amigo músico, um cara de 7 instrumentos literalmente, toca de tudo: guitarra, violão, acordeom, percussão, baixo, washbone e gaita ou harmônica. Cada vez que encontro com ele tá aprendendo a tocar algum instrumento novo.
Queria fazer uma página de quadrinhos falando sobre ele. Conversamos e então me contou que quando era garoto sofria de bronquite e quando ia para o hospital, sua família levava HQs para ele ler. Da doença ele se curou e tem um fôlego extraordinário, talvez o melhor gaitista de Blues do Brasil.
Diogo Bercito autor do roteiro da HQ “Remy” tinha bronquite, se curou e aqui conta a história da vida e da morte do adolescente do menino título do álbum. O garoto sofre para subir a ladeira da rua onde mora, Sandra que trabalha na casa, antes de servir o almoço, amarra uma fita vermelha no pulso do menino.
Essa prática registra de maneira impressa nessa HQ lançada em novembro de 2013 pela Editora Dead Hamster / Suricatinho até alguns anos era comum. Não era raro ver nos bebês uma fita para proteger contra o mau olhado. Mas, logo vemos que a proteção foi em vão. Remy morre e quem vai acompanhar ele na outra vida é um gato falante, o gato que morava no seu peito e que não deixava ele respirar.
Durante a estranha jornada, Remy vai fazer muitas perguntas e não vai ter quase nenhuma resposta. Os diálogos com a sua bronquite, o gato, permitem reflexões e permeiam metáforas e situações surreais. Perguntas e mais perguntas, uma busca por respostas, e talvez a única que Remy consiga ter é que deveria ter aproveitado mais a vida e se cuidado mais.
Talvez tudo não passe de um pesadelo de Remy. Talvez ele acorde e sua vida vai tomar outro rumo. Quem sabe?
Essa fábula sobre a doença, a vida e a morte tem o belo traço de Julia Bax, que faz de Remy uma figura patética e simpática. Com seu cabelo emplastrado, braços e pernas finíssimas e mesmo quando vivo, sua pele em tom cinza esverdeado, o transformam em um personagem que lembra um conto de terror, ou até mesmo um membro da A Família Addams.
A obra é mais uma prova da diversidade e qualidade do ProAC-SP, edital público do Estado de São Paulo para o incentivo à cultura. Contemplada em 2012, esse trabalho conta com um projeto editorial competente, com direito a uma capa cartonada (sem orelhas), papel couché de boa gramatura e boa impressão.
A HQ termina com uma última pergunta e a resposta fica no ar. Essa pergunta a gente faz a nós mesmos a todo momento.
Vale a pena a leitura.
Remy
Editora Dead Hamster / Suricatinho
Edição especial
Roteiro: Diogo Bercito
Arte: Julia Bax
21 x 28 cm
56 páginas
R$ 25,00

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