Fábio Moon, Gabriel Bá e a garota Jerimum
Sexta-feira para manter a tradição é dia de colocar textos interessantes sobre quadrinhos.
Esse particularmente era para ser inserido semana passada, mas devido à alguns imprevistos não foi possível, portanto como texto interessante deve ser lido, e eu acredito que eles nuca perdem a validade, aproveitem a leitura.
Fábio Moon, Gabriel Bá e a garota Jerimum
O mês de julho foi marcado pelas duas premiações mais importantes dos quadrinhos, no Brasil (o troféu HQ Mix) e nos EUA (o prêmio Eisner), este último muito comumente chamado de Oscar dos Quadrinhos.
E se o Brasil, não injustamente como muitos adoram propagar, nunca pôs as mãos na estatueta da academia de cinema, pela primeira vez temos conterrâneos recebendo, e muito merecidamente, o Eisner Awards.
São eles Rafael Grampá e os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, triplamente premiados por Melhor Antologia (5, de autoria dos três e mais dois autores internacionais), melhor minissérie (The Umbrella Academy, Bá e músico Gerard Way, da banda My Chemical Romance) e melhor HQ digital (SugarShock, de Moon e Joss Whedon, de Surpreendentes X-men e Buffy).
Mais do que algo inédito para o Brasil, que há anos exporta artistas de qualidade como Ivan Reis e Mike Deodato, essa premiação, junto à brasileira, serve para demonstrar como nós, como povo, não só menosprezamos os quadrinhos em geral (pois, ao passo de que aqui é visto como “coisa de criança” ganha status de produção cultural em todo o mundo) bem como a competente obra de muitos autores nacionais.
Particularmente, acho ridículo quando elogiamos o trabalho de um ou outro autor por puro ufanismo nacionalista. Machado de Assis – joguem pedras – é quase tão superestimado quando Paulo Coelho ou Gilberto Gil, tendo poucas obras de excelência, como o Homem e a Luva, Memórias Póstumas e O Alienista, sendo, na maioria das vezes, verborrágico e chato.
o mesmo tempo, por algum motivo, esquecemos de autores realmente empolgantes simplesmente porque alguém não se levanta a cada hora para chamá-los de gênios (Aluísio Azevedo e Guimarães Rosa, por exemplo).
O mesmo ocorre com os quadrinhos. Apesar de terem muito pouco apoio (lei Rouanet passa longe) e público bastante restrito, os autores nacionais costumam ser bem diversificados e fogem dos tradicionais super-heróis em roupas colantes, apresentando textos gostosos, que são facilmente devorados, como toda boa leitura deve ser (continuando a insistir no “sacrilégio” machadiano, Dom Casmurro é quase tão intragável quanto Iracema).
Existem maus autores? Sim. Inúmeros. Ziraldo, por exemplo. É o Machado de Assis da nona arte, e muitos outros podem ser contabilizados entre aqueles de pseudo-arte (tradução: “faço arte apesar de não saber, seja educado e elogie, mesmo que não goste, vamos”), mas existem inúmeros outros de muita qualidade.
A grande questão é que, agora, cada vez mais essas obras de bom tom chegam ao público.
Não falo apenas de macacos velhos que sempre casaram qualidade e vendas, como Laerte e Maurício de Souza, mas de uma nova safra, como Cadu Simões (O Homem Grilo), os ácidos Allan Sieber e André Dahmer e aqueles que compõem a sempre ótima Quadrinhópole (onde já ouvi esse nome? Ou algo parecido?).
Mas (porém, entretanto, contudo e todavia, nunca ignore a todavia), mesmo assim, são vendagens tímidas, inclusive para ícones como Laerte e Maurício de Souza (sim, até para a Mônica, um indiscutível sucesso, não vende o que poderia e deveria). Muitos são os autores e desenhistas brasileiros, como Bá, Moon e Ivan Reis, que saem de nosso país para conseguir reconhecimento (e os europeus e americanos são bestas de não quererem gente desse nível sem o estrelismo que a maioria dos seus artistas tem, não?).
Dói ver que os quadrinhos não são os únicos a sofrerem este problema. Livros, bom cinema, teatros, boa música… Tudo está no mesmo balaio. Somos a terra do Latino e seu amigo fura-olho, da Preta Gil, do pseudo-intelectualismo (alguém mais riu com a entrevista em que Paulo Coelho afirma ser o intelectual mais importante daqui?) e dos brasileiros que vão ser reconhecidos no exterior para, um dia, sonharem em serem aqui também. Foi assim com Chico Buarque, vai ser assim com Bá e Moon.
E quanto ao resto de nós? As verbas federais para a cultura não chega nem a 01% do orçamento geral da União (o que é minimamente recomendado pela UNESCO) e 90% dos internautas nem terminarão de ler esse artigo “longo demais”. Portanto, quanto a nós resta unir-nos aos romanos (por favor, digam que entenderam a referência) e decorar qual a mulher fruta da vez. Acho que é a Garota Jerimum.
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