Fora das HQs: A verdade sobre o caso Harry Quebert
O suíço Joël Dicker é o que se pode chamar de fenômeno literário. Seu primeiro livro, ainda inédito no Brasil, foi publicado quando ele tinha 24 anos de idade e logo de cara lhe rendeu o Prêmio dos escritores de Genebra.
Este segundo livro, A verdade sobre o caso Harry Quebert, bateu a casa dos 2 milhões de exemplares na Europa e seus direitos de publicação foram vendidos para mais de 30 países. O título obteve tanta repercussão mundo afora que a edição brasileira dedica duas páginas para comentários da imprensa internacional elogiando a obra.
A verdade sobre o caso Harry Quebert nos conta a história de Marc Goldman, um escritor cujo primeiro livro vendeu 1 milhão de exemplares, o que lhe rendeu um contrato milionário com uma grande editora para uma segunda publicação.
O problema é que o rapaz não tem a menor ideia sobre o que escrever e o prazo para a entrega dos originais esta se esgotando e qualquer descumprimento das regras do contrato – como, por exemplo, não conseguir entregar um livro – lhe renderá uma multa igualmente milionária.
Desesperado, ele busca refugio para seu bloqueio criativo na casa de Harry Quebert, famoso escritor e seu professor e amigo nos tempos de faculdade. O problema é que durante seu retiro o corpo de uma adolescente de 15 anos – que desapareceu no verão de 1975 – é encontrado enterrado no jardim da casa de seu amigo/professor junto com os originais do livro As origens do mal, o grande best-seller de Quebert.
Harry admite ter tido um caso com a garota, quando ele tinha 31 anos, e admite ter escrito o livro para ela, mas nega tê-la matado. Goldman começa então uma investigação própria para inocentar o amigo da pena de morte.
O livro atua em três frentes: É um romance policial (com diversas pistas falsas, uma lista imensa de suspeitos e todas as reviravoltas que o gênero sugere), tem um que de Lolita na relação entre Harry Quebert e Nola Kellergan (a garota encontrada no jardim do escritor) e usa também o recurso da metalinguagem ao abordar o processo criativo de um escritor ao mesmo tempo em que nos apresenta uma faceta do mercado editorial nos EUA. Vale destacar que cada capítulo começa com uma lição sobre a escrita de livro.
A narrativa é interessante com diversos flashbacks (tanto em relação ao caso de Harry Quebert quanto de Goldman contando sua história particular); trechos do livro As origens do mal e trechos de jornais. O livro possui dois finais: o final do livro escrito por Goldman, o personagem principal da trama, e o final do livro em si.
Mas a força da história esta em seus personagens cativantes, e eles são inúmeros: A mulher que tem problemas em elogiar alguém; a mãe atenciosa e extremamente cuidadosa; o homem apaixonado pela garota, mas que se atrapalha todo na hora de se declarar para ela; o editor inescrupuloso; o pastor que ouve música no último volume, incomodando toda a vizinhança; a pequena garota bonita que sonha em ser modelo; o humilde bibliotecário que sonha em realizar um grande feito; o artista talentoso e deficiente a quem todos evitam; o artista fracassado que não hesita em plagiar os outros e alguns mais. Impossível não se identificar com um deles – ou alguns.
Ao término da leitura, me peguei pensando em como continuou a vida de alguns desses personagens – tamanha a empatia que Dicker consegue despertar no leitor.
Com tudo isso, o livro nos proporciona uma leitura bem gostosa, que começa meio sem graça é verdade, mas vai ficando cada vez mais interessante à medida que o mistério sobre o assassinato aumenta.
Não é nada tão revolucionário quanto as citações da imprensa especializada destacadas na edição possam sugerir, mas um livro que entretém e cujas características acabam lhe destacando dentre os demais.
A verdade sobre o caso Harry Quebert
Gênero: Ficção Policial
Editora Intrínseca
Autor: Joël Dicker
Tradutor: André Telles
576 páginas
Ano 2014 – 1 edição
R$ 39,90

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